quinta-feira, 23 de novembro de 2017

.da relação de dependência

Numa relação de dependência, não há espaço para nossa profissão sair do poço profundo do subdesenvolvimento. Haverá sempre um duplo mecanismo que nos prenderá neste ciclo gangrenoso.



Depender de outras profissões com caracteristicas mais centrais (não-subalternas/prescritoras/tutoras), e a manutenção do sistema de castas profissionais (inter), onde poucos sabem muito (centro) e muitos são doutrinados a concordar que nada sabem ou sabem muito pouco (periferia). Em linhas gerais essa dinâmica duplamente articulada nos prende no calabouço da dependência, que inevitavelmente faz com nosso status de profissão periférica subdesenvolvida mantenha-se ad infinitum.



Essa relação umbilical é tão forte com as profissões centrais, que nossos pacientes recebem alta fisioterapeutica de outros profissionais, sem falar nas clássicas prescrições de fisioterapia por não-fisioterapeutas.









sábado, 18 de novembro de 2017

. do subdesenvolvimento

Engana-se fortemente quem enxerga o subdesenvolvimento como um estágio natural para o desenvolvimento.

Existem interesses reais que se banqueteiam do status quo de nossa miserabilidade . Existem forças poderosas satisfeitas com manutenção dessa característica que nos abraça.


Enquanto nosso corpo social não entender de que é preciso romper realmente com o modelo de coisificação dos corpos (biomédico), estaremos presos nessa masmorra de servidão infinita vendendo nossa força de trabalho barato e importanto caríssimo para nosso meio migalhas de uma autonomia fajuta que não é e jamais será aclamada pela sociedade.


Para haver desenvolvimento numa ponta, é preciso que exista subdesenvolvimento noutra ponta, ao menos no contexto de mundo e no delta-tempo do Brasil (2017).














.dos congressos

É preciso modificar radicalmente as estruturas dos congressos brasileiros. Esses espaços hoje, tem um fino verniz de ciência, e nada mais são que enormes estandes de propaganda para patrocinadores endinheirados, que muitas vezes estão pouco se importando para o imperfeito universo da ciência.

Para piorar a situação, os espaços de discussão são mínimos, para não dizer ridículos. Complicando ainda esse drama tipicamente grego, esses eventos estão lotados de estudantes. Estudantes estes que seriam em sua maioria os mais interessados de suas escolas, que levarão para seus redutos a informação contaminada, e como formadores de opinião ( que provavelmente são ), transmitirão ideias muitas vezes já deformadas pela doença. Há mais pirotecnia nos estandes do que ciência. Há menos ciência no pulpito do que deveria. 

Neste contexto triste, qual será razão dos organizadores não buscarem alternativas sustentáveis para seus eventos como a anos acontece com o International Back and Neck Pain Research Forum, que por sinal já foi realizado no Brasil em 2014 desta era vulgar?

Resposta: Comodidade. Fisioterapeutas tendem a ser comodistas e evitam sair das suas mediocres zonas de conforto, rejeitando assim uma identidade dinâmica de lutas, aceitando uma estática miserável e fétida.

Quem não apoia o tráfico de drogas, mais consome drogas vendidas pelo tráfico é hipócrita ou imbecil. Essa analogia serve para fazermos uma relação entre os que reclamam do modelo dos congressos, mas participam ( em especial como plaestrantes ). 

Paremos com o moralismo nécio e ajamos com verdadeiros defensores do que é correto, mesmo que isso signifique cortar em nossa própria carne.

Carl von Clausewitz certa feita propos que a guerra seria a continuação da política por outros meios.

Assumamos nossos reais postos no front. 



.dos docentes

Quem são nossos docentes? De onde vem? O que almejam?Qual a intenção de suas aulas?  Enciclopedismo barato ou capacitação real?


São homens livres ou escravos de uma matriz falida desenvolvida para desenvolver o subdesenvolvimento de nossa profissão, engendrado por quem entende pouco nossa realidade, ou parte de um projeto maior de criação de profissionais periféricos que carecem de tutela de um centro desenvolvido?
Como caminham nossos processos seletivos?


O Ilustre Professor Darcy Ribeiro já dizia em sua sapiência explicita: A crise da educação no Brasil não é uma crise; é projeto.



.do futuro

Qual o perfil do acadêmico de Fisioterapia?


Um animado aspirante a profissional, que escolheu aquele curso por entendê-lo como socialmente relevante, identificando-se com suas lutas, podendo transmutar-se num agente de saúde consciente ao final de alguns anos. Ou trata-se de apático aluno que adoraria mesmo estar matriculado em outro curso, mas pelas barreiras da vida (financeiras/intelectuais) não conseguiu lograr êxito em sua caminhada?


Com o mix de um aluno pouco esclarecido e professores pouco preparados que ainda apostam num enciclopedismo raso de dar dó quais



os caminhos seguir depois da graduação? Educação continuada vale a pena? Especializar-se vale a pena? 

Resposta: Óbvio que sim.  [Será? Por qual razão tínhamos menos de 30 Fisioterapeutas Especialistas em Traumato-ortopedia no estado de MG?]

A realidade da especialização seria a tentativa de espelhamento de profissões centrais? [Realmente não  sei essa resposta.]

Os cursos de aperfeiçoamento, que crescem como o lodo em cachoeiras, oferecem o que? Há algum controle por parte dos órgãos competentes? Há compromisso com a prática baseada em evidências, com o lucro ou os dois?





Nossa crise de identidade nasce aqui. Nasce como um tumor que invade e deforma rapidamente. Um charco do 'conhece-te a ti mesmo' que é tão raso que não molha nem os calcanhares dessa juventude que tem uma preguiça institucional de lutar.

.dos clubes privados

Não é possível fazer uma revolução sem as massas.


É preciso que os clubes privados de conhecimento (gentlemen's club) sejam desfeitos e que o estado de segregação intelectual, que reina na Fisioterapia, caia por terra (segregação intelectual inter-fisioterapeutas). O conhecimento deve ser utilizado para encantar e não para humilhar, ou criar guetos. Deixar que o mercado faça a seleção, um modelo liberal infecundo, de nossos pares nos enfraquece enquanto corpo social.


Ocupar lacunas, misturar-se com os anseios do povo, entender suas demandas. Compreender que para realizar uma revolução verdadeira precisamos, sim, das massas, não apenas por seu volume, mas também sua capacidade desenvolvida e/ou estimulada, ligada a vitalidade da 'espécie brasileira'.


Pequenos clubinhos podem transforma-se em diversas incubadoras com uma capacidade de ocupação fortíssima, coopitando nossos pares, dando a eles ferramentas precisas para a ação. Há ações desse tipo em curso hoje, ou estamos apenas nos valendo de uma possível fragilidade intelectual fomentada por um sistema de ensino falido, para nos lucupletar da desgraça alheia?







quarta-feira, 15 de novembro de 2017

.das reformas

A ordem social vigente sustentada pelo arcaísmo do modelo biomédico carece de reformas urgentes. Este modelo desconsidera por completo as interações dos sistemas biológicos, direta ou indiretamente, com o universo social e sistemas próprios de crença.





Ao se reformar uma casa, mantém-se a estrutura original, ou parte dela, mas com recursos intervencionistas mínimos modificam-se alguns pontos, e neste contexto surge uma dinâmica nova sob uma estrutura velha. Afinal de contas velhos sobrados de Diamantina-MG podem ter cozinhas modernas ou ar-condicionado.


Reformar é preciso, sempre, mas compreendendo claramente que a não-ruptura objetiva com os antigos modos de se fazer saúde, significa nutrir, ainda que não se queira isso, o ultrapassado modelo reducionista, fragmentador, que vislumbra rendimentos e status social, do que realmente sanar ou tentar sanar de forma efetiva as demandas da sociedade.




.da ordem social – ideal e real


O fisioterapeuta brasileiro, é impedido, por forças pragmáticas, de gozar plenamente os seus direitos.
Além desse tolhimento de direitos, a profissão esta presa a um contexto reducionista do processo função-disfunção onde ações terapêuticas baseadas na cultura do fazer são realizadas em detrimento do paradigma do desfecho dioturnamente.


O Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional conceitua a Fisioterapia como uma ciência da saúde que estuda, previne e trata os distúrbios cinéticos funcionais intercorrentes em órgãos e sistemas do corpo humano, gerados por alterações genéticas, por traumas e por doenças adquiridas, na atenção básica, média complexidade e alta complexidade. Fundamenta suas ações em mecanismos terapêuticos próprios, sistematizados pelos estudos da biologia, das ciências morfológicas, das ciências fisiológicas, das patologias, da bioquímica, da biofísica, da biomecânica, da cinesia, da sinergia funcional, e da cinesia patológica de órgãos e sistemas do corpo humano e as disciplinas comportamentais e sociais.


Já o Fisioterapeuta é um profissional de Saúde, com formação acadêmica Superior, habilitado à construção do diagnóstico dos distúrbios cinéticos funcionais (Diagnóstico Fisioterapêutico), a prescrição das condutas fisioterapêuticas, a sua ordenação e indução no paciente bem como, o acompanhamento da evolução do quadro clínico funcional e as condições para alta do serviço. - Decreto-Lei 938/69, Lei 6.316/75 -